2020: a era do foblet 2.0
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2020: a era do foblet 2.0

Samsung Galaxy Fold e LG G8X são indicadores do futuro do smartphone – telas dobráveis ou duplas são a evolução do aparelho celular neste ano.

Nesses 12 anos e pouco de blog, já caí muito na armadilha de falar que smartphones tinham tela gigante. Se pensar que a primeira referência de “aparelho com tela sensível ao toque” é o iPhone original e seu display de 3,5″, acompanhei o crescimento desses aparelhos e hoje chegamos em um momento interessante: o foblet 2.0 – com duas telas ou com a tela dobrável.

Já temos dois exemplos à venda no Brasil: o Samsung Galaxy Fold e o LG G8X ThinQ. Ambos experimentais, conceituais, com acertos e erros.

O conceito de Foblet (smartphone mais tablet) vem da era que o único smartphone realmente grande do mercado era o Samsung Galaxy Note – na época, chamei de “tablet de bolso” com sua tela de 5,3″. Só que os smartphones cresceram – até mesmo o iPhone – ao limite de não caber mais nas nossas mãos.

Acho incrível os fabricantes terem os telefones grandes – iPhone 11 Pro Max, Samsung Galaxy Note 10+, Galaxy S10+, Huawei P30 Pro e LG G8S, para ficar em alguns exemplos. Mas eles esbarram no tamanho grande / compatibilidade com nossos bolsos (o da calça, não o bancário). Vira e mexe minha tendinite no dedão da mão direita dá sinais de que quer voltar: viva a navegação em uma tela grande.

A solução: dobrar a tela (fisicamente ou em número de displays), ampliando a área de trabalho sem ter algo muito… grande. É um caminho que Samsung e LG já começaram a seguir (lá no fim tem uma viagem minha sobre esses aparelhos todos).

Samsung Galaxy Fold

O Galaxy Fold, quando mostrado no palco do lançamento do S10 ano passado, foi aquele aparelho que me fez dizer “uau, isso é muito legal”. Motivos não faltam: telas que dobram ao meio são impressionantes (nesse momento da breve história dos smartphones, o Henrique de 2030 pode discordar).

O Fold foi anunciado com um preço alto (coerente com o posicionamento-mais-que-premium), mais como um aparelho de testes (que os empolgados comprariam) do que algo para ser vendido como produto de massa (Galaxy A está aí para confirmar a teoria do aspiracional: comprador quer recursos, mas o dinheiro do povo está nos bolsos menores).

O fato de ser um “aparelho de testes” se confirmou com todo o inferno que aconteceu em abril, quando o Fold deveria chegar às lojas. Vale repetir o que escrevi na época: “E por não ser um Galaxy S ou Note, a Samsung pode arriscar (e errar) em novos formatos”.

O primeiro Fold não deu certo, voltou para a prancheta, a Samsung corrigiu os problemas e relançou o smartphone em setembro e agora, janeiro de 2020, ele começou a ser vendido aqui, em edição limitada. Escrevi um review do Fold para o Estadão (paywall), mas reafirmo o que disse lá: é uma prévia do smartphone do futuro.

O mais importante do Fold, para mim, é saber que esse não é o formato final desse tipo de produto. A Samsung optou pelo estilo “livro” com o Fold (tela está dentro, abre para fora, precisa de uma tela adicional externa), diferente do raro Huawei Mate X (outra vítima da guerra comercial EUA/China), que tem apenas uma tela externa dobrada ao meio (permitindo uma experiência melhor com o aparelho fechado).

Dá para imaginar que, de certo modo, a linha Fold vai em algum momento ocupar o espaço “topo de linha” que os Galaxy Note ocupam hoje – tela dobrável, perfil fino, caneta S Pen. A conferir no segundo semestre.

O Google já afirmou que trabalha para tornar o Android compatível com telas dobráveis, e vejo que, no geral, o software no Fold é bem acabado. Existe uma continuidade de apps da tela menor (que é muito estreita, diga-se de passagem) para a tela grande ao abrir o smartphone – mas não o contrário – ao fechar o aparelho, é preciso ativar a tela externa.

Dá para organizar os apps divididos na tela (até três), o que é razoável – gosto do modo com dois apps no iPad, e até chegar a pensar que, com um teclado externo, um Galaxy Fold substitui um notebook em viagens e reuniões. É um aparelho incrível, com um futuro incrível para o formato, só precisa sair da fase de testes mesmo – aguardemos os próximos passos do Fold.

LG G8X ThinQ

Eu considero incrível o conceito do LG G8X ThinQ, mesmo sabendo que a LG Display tem projetos incríveis de telas dobráveis (incluindo TVs!). Não é um dobrável, mas sim um smartphone “normal” com um acessório/capa que traz mais uma tela. No final, você não tem que pagar tão caro (mas ainda caro) por um smartphone “estilo dobrável”.

Mas por mais que sua ideia seja incrível, o G8X ThinQ precisa de ajustes para as próximas gerações. Seu software é terrivelmente mal-acabado: a curva de aprendizado de jogar um app para a tela lateral é lenta e se baseia mais em tentativa e erro do que pela simplicidade (que é algo que o Fold faz muito bem). Poderia ser incrível, mas o software não ajuda mesmo.

Dá para entender porque a Microsoft vai lançar um smartphone com o mesmo conceito só no final deste ano – o Surface Duo – e está lapidando o software. Duas telas não são uma apenas.

Em resumo, tive que ligar para a LG e pedir ajuda, mas isso não é uma opção para o consumidor final. Então, aguardemos uma versão mais bem acabada do software por trás do aparelho híbrido em futuras versões desse design.

O G8X tem duas questões físicas que incomodam: ele é muito grande/grosso com a capa-tela. Não cabe no bolso da calça – o Fold até cabe (fica um pouco desconfortável), o G8X é pesado e pouco confortável. Veja a foto que abre este post: G8X embaixo, Fold em cima. Compare os tamanhos.

A segunda coisa que incomoda é que fotografar com ele é confuso demais – acabei ouvindo a explicação da marca que o melhor é usar a câmera de selfies como principal quando estiver com a segunda tela ligada/dobrada.

Uma pena. Com um tamanho um pouco menor e com software azeitado, o G8X seria matador.

O futuro das telas grandes

Motorola razr 2019

Usei o velho e bom quadro de tendência dos RPGs para dividir o que existe hoje em dobráveis/tela dupla no mercado global. Ficou assim:

LEAL E BOMLEAL E NEUTROLEAL E MAU
Protótipos da TCLMotorola razrSamsung Z Flip
LEAL E NEUTRONEUTRONEUTRO E MAU
Microsoft Surface DuoSamsung Galaxy FoldHuawei Mate X
LG G8X
CAÓTICO e BOMCAÓTICO E NEUTROCAÓTICO E MAU
Xiaomi Mi Mix AlphaO dobrável da EnergizerRoyole FlexPai

Explico:

  • Leal: são aparelhos dobráveis híbridos entre flip-phone e smartphone, e que acredito terem maior apelo popular. Serão pequenos, portáteis e que se dobram ao meio.
    TCL entra ainda na fase de protótipo, mas a marca costuma ter o apelo do preço (bom), o Motorola razr é o benchmark do mercado para 2020 e o Samsung Z Flip entra na linha do “mau” não porque o vejo como “ruim”, mas acredito/imagino que sua estratégia de lançamento seja baseada em jogar muita areia no caminhão da Motorola.
  • Neutro: são os produtos que viram tablet. De novo, “mau” aqui porque o software é problemático (Mate X não tem serviços do Google, G8X expliquei acima).
  • Caótico: são projetos que
    a) não existem (o da Energizer!);
    b) necessitam de uma engenharia louca para existir (e talvez não existam mesmo, como o Mi Mix Alpha e sua tela que segue pela traseira do smartphone);
    c) são feitos por empresas como a Royole que grita ao mercado “me comprem” e ninguém ouve, porque coisas como o FlexPai são muito esquisitas e quem quer comprar uma empresa que faz tela para chapéu, afinal.

2020 vai ser um ano interessantíssimo para o design de novos smartphones, e finalmente os fabricantes saem do convencional “design de sabonete” que pauta essa indústria desde 2007. A conferir mês que vem no Samsung Unpacked de San Francisco (dia 11) e no Mobile World Congress, no final de fevereiro.

Escrito por
Henrique Martin
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