GNUs vs. Geekos
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GNUs vs. Geekos

Enquanto a Novell comemorava sua parceria com a Microsoft e mostrava seus produtos e serviços em um grandioso evento no Salt Lake City Center em Salt Lake City, Utah, um pequeno grupo de jornalistas literalmente atravessou a rua na hora do almoço em direção a uma sala de reuniões no hotel Shiloh Inn para ouvir o que Bruce Perens, um dos expoentes da comunidade do software livre e autor da Open Source Definition, tinha a dizer sobre o assunto.

O evento começou com a seguinte declaração de Richard Stallman, enviada por e-mail e lida por Bruce Perens:

Free software means software that respects users essential freedoms, including the freedom to change the software so it does what you wish, freedom to run it, and freedom to redistribute copies. The denial of these freedoms is what makes proprietary software unethical. To make these freedoms a reality, we set out 23 years ago to develop the GNU operating system, which is the basis of all today’s “Linux” distributions, including that of Novell.

In 1983, a few free programs existed, and unscrupulous middleman eagerly took them and made non-free modified versions. It was clear that to deliver freedom to every user we would have to find a way to defend the users’ freedom. The method we developed is the GNU General Public License. The purpose of the GNU GPL is to ensure that redistributors of the program respect the freedom of those further downstream. The GPL defends the freedom of all users by blocking the known methods of making free software proprietary.

Novell and Microsoft have tried a new method: using Microsoft’s patents to give an advantage to Novell customers only. If they get away with scaring users into paying Novell, they will deny users the most basic freedom, freedom zero: the freedom to run the program.

Microsoft have been threatening free software with software patents for many years, but without a partner in our community, the only thing it could do was threaten to sue users and distributors. This had enough drawbacks that Microsoft has not yet tried it. Attacking in combination with a collaborator in our community was much more attractive.

If nothing resists such deals, they will spread, and make a mockery of the freedom of free software. So we have decided to update the GNU General Public License not to allow such deals, for the future software releases covered by GPL version 3. Anyone making a discriminatory patent pledge in connection with distribution of GPL-covered software will have to extend it to everyone.

In the mean time, let’s make it clear to Novell that its conduct is not the conduct of a bona-fide member of the GNU/Linux community.

Segundo Bruce, a comunidade não é contra a parte técnica do acordo entre Novell e Microsoft, que prevê colaboração no desenvolvimento de tecnologias que facilitem a interoperabilidade entre as plataformas das duas empresas, como suporte a virtualização do Windows Longhorn Server no Xen e filtros de importação/exportação de documentos do Office 2007 no OpenOffice.org. Toda esta tecnologia está sendo devolvida í  comunidade, sob as licenças originais. A “bronca” é quanto a parte do acordo relativa í s patentes de software.

Perens diz que atualmente é impossí­vel, nos EUA, desenvolver um programa sem infringir ao menos algumas patentes de software, já que muitos dos processos e algoritmos essenciais foram patenteados de uma forma ou outra. Há empresas especializadas na fiscalização destas patentes e coleta dos royalties relacionados. Um processo por infração contra uma pequena empresa pode ser um golpe fatal, ou incapacitá-la por tempo suficiente para que a concorrência ganhe vantagem no mercado. Sob os termos do acordo, Novell e Microsoft ofereceriam a seus clientes proteção contra este tipo de processo, caso algum tipo de infração seja levantada contra seu software.

É algo similar ao que aconteceu alguns anos atrás quando a SCO, incapaz de conseguir dinheiro da IBM com seu processo por “plágio” de código de seu Unix no AIX e Linux, foi atrás dos usuários do sistema operacional exigindo o pagamento de “licenças” pelo uso de seu código. Algumas empresas menores e menos informadas pagaram por tais licenças. Mas a IBM entrou em cena, assegurando que protegeria seus clientes de uma potencial ação judicial. Sob os termos do acordo, Novell e Microsoft fariam a mesma coisa.

Isso é visto como uma “taxa de proteção”, similar í  tática usada pelo crime organizado para extorquir dinheiro de pequenos comerciantes: “Puxa, seu mercadinho é muito legal. Seria uma pena se uma bomba estourasse aqui dentro em pleno pico de movimento. Mas se você me pagar uma taxa eu posso te proteger…”. Bruce defende a idéia de que, em vez de vender proteção, a Novell deveria se juntar í  comunidade na luta pelo fim das patentes de software, eliminando o problema dos processos espúrios de uma vez por todas e beneficiando a todos.

Embora o acordo entre a Novell e a Microsoft seja perfeitamente legal sob os termos de versão 2 da GPL, licença que governa a distribuição da maior parte do software que compõe o SUSE Linux Enterprise Desktop e Server, Bruce informa que o comitê que está elaborando a versão 3 da licença (do qual a Novell faz parte) pretende incluir uma cláusula que proibiria a redistribuição do software por empresas que ingressam neste tipo de acordo em detrimento ao bem-estar e interesses da comunidade em geral. Isso impediria a Novell de redistribuir componentes crí­ticos de suas soluções Linux.

Claro, isso considerando que todos os softwares que fazem parte do SUSE Linux Enterprise adotassem a GPL 3, o que é um cenário bastante otimista. O próprio Linus Torvalds, por exemplo, já declarou que pretende continuar usando a GPL 2 como a licença do kernel Linux. Entretanto a FSF ainda tem poder de barganha, já que controla dois componentes vitais de qualquer distribuição Linux: o compilador C (GCC) e a biblioteca padrão do sistema, libc. Com a nova cláusula a Novell não teria acesso a novas versões destes componentes, e teria duas opções: criar um “fork” e manter suas próprias versões, investindo grandes somas no processo, ou repensar seu acordo com a Microsoft e mudar de estratégia para sobreviver.

Acompanhe a í­ntegra da apresentação de Bruce Perens, chamada “Raining on Novell’s Parade” (algo como “Estragando a Festa da Novell”). São 40Mb em MP3, com cerca de 44 minutos de duração.

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3 comentários
  • O mascote do SUSE é chamado Geeko, e o pessoal se rfere a Geeko quando querem se referir a coisas ou pessoas relacionadas ao SUSE…

    Então Geeko… não Gecko (relacionado à fundação Mozilla)

  • Estou de olho nas atitudes da Novell e da Microsoft. Não hesitarei um só segundo em recomendar fortemente a não utilização do SUSE Linux caso a Novell insista nesse acordo espúrio e prejudicial aos usuários finais. É totalmente hediondo ter q pagar proteção à Novell p/ q a Microsoft não use seus cães de guarda contra aqueles q ousaram confiar na proteção da GPLv2! >(